A história de Roberto
Roberto, 46 anos, é um
advogado muito bem sucedido, tem uma família estruturada, uma esposa “quase
perfeita” e dois filhos pré-adolescentes que não dão muito trabalho. Procurou
meu consultório, pois estava sendo invadido por um pensamento tenebroso: se
imaginava matando toda a sua família num ataque de fúria.
Não havia nada, a princípio,
que o motivasse a cometer um ato tão brutal: sua esposa, delicada e
companheira, sequer o provocava com palavras rudes e seus filhos levavam uma
vida dentro dos padrões normais para suas idades. A vida financeira era
organizada e o trabalho o satisfazia completamente. Então, por que estas
imagens e intenções o assolavam tão frequentemente?
Ele vinha de uma infância
absolutamente sofrida. Seus pais se odiavam, mas para cumprir as exigências
sociais, religiosas e por questões
financeiras não se separaram e viviam em constantes e graves conflitos. Seu pai era muito severo e rígido, não
permitia que o menino chorasse nem expressasse qualquer tipo de emoção mais
contundente e genuína. Roberto se controlava o tempo todo e se empenhava para
cumprir as rígidas regras impostas por sua família. Fazia um esforço tremendo
para ser bom em tudo que se comprometia a realizar e apesar de conseguir altos
padrões de atuação, não ficava satisfeito com nada. A mãe, submissa ao pai, não
tinha voz ativa, o acolhia quando ele se entristecia, mas não permitia também
que fizesse escolhas. Nem pequenas, nem grandes. O menino Roberto não podia
sequer decidir a roupa que iria usar, a forma que pentearia o seu cabelo, muito
menos suas amizades.
Na adolescência namorou
algumas meninas, mas seu interesse por elas se concentrava muito mais no
aspecto intelectual do que propriamente nas questões corporais. Não havia nele
uma virilidade natural de jovens começando a vida sexual. No entanto era
notória a sua admiração pelos corpos de seus colegas de turma e da rua. Roberto
fazia questão de jogar futebol, apesar de não ter muita habilidade com a bola,
pois era neste momento que conseguia tocar os corpos dos garotos da sua idade.
De fato, estas sensações precisavam ser reprimidas, pois ele não poderia
admitir desejos tão proibidos. E assim, cresceu e conheceu a Carla, uma linda
adolescente que poderia figurar muito bem ao seu lado e ajudá-lo a cumprir um
papel exigido por sua família e pela sociedade.
No entanto, apesar de uma
aparente felicidade e perfeição, o casal não tinha uma vida sexual satisfatória
e ele controlava o intenso desejo que sentia pelos estagiários de seu
escritório. De fato, nem ele mesmo podia admitir com clareza estes sentimentos
e por isto necessitava de ajuda profissional. Não aceitava a homossexualidade e
isto se expressava no desejo intenso de fazer desaparecer a sua família, o que
lhe daria a franquia para expressar de fato seus anseios.
A homossexualidade masculina
já foi muito valorizada entre os gregos e tolerada pelos romanos, mas foi
vigorosamente condenada pelo advento do cristianismo. Na Grécia Antiga, era
muito comum que os homens de bem desprezassem as mulheres, que consideravam
inferiores e irracionais, e admirassem muito outros homens mais jovens. Eles
podiam ter relações extraconjugais com concubinas, cortesãs e efebos, que eram
meninos imberbes com quem faziam sexo. Quando estes meninos cresciam e se
tornavam cidadãos gregos, casavam, tinham filhos e buscavam seus próprios efebos.
Isto quer dizer que a heterossexualidade não é natural, ela é imposta por
questões culturais, o que causa de fato diversos transtornos atualmente em
pessoas que não conseguem se expressar verdadeiramente.
É óbvio que a condução do
tratamento incluía fazer com que Roberto entendesse que o melhor solução era se separar da Carla e buscar a sua
felicidade na expressão do seu verdadeiro eu. Melhor decepcionar a sociedade do
que destruir vidas, inclusive a sua. Estamos trabalhando com afinco e Roberto
já pensa em se mudar para uma casa menor, perto dos filhos, mas com a sua
veracidade.
# atenção: todos os nomes
citados acima são fictícios.
Adriana
Santiago
CRP:
05-20345
Psicologia
Positiva
Tel: (021)
2609-4075 - 98662-2565
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