“PERDOAR FAZ BEM PARA O CORPO E PARA A ALMA”

PARA QUE PERDOAR?

“Aquele infeliz do meu marido me traiu!”, “A vida não foi boa comigo!”, “Não consigo esquecer as coisas ruins que vivi na minha infância!”, estas são exclamações comuns nos consultórios de psicologia. Restos de mágoas acumuladas, desejo de vingança ou simplesmente tristeza profunda por sentimento de injustiça atravancam o progresso de quem não consegue perdoar. O sujeito se agarra às lembranças do que lhe fez sofrer e monta uma rede subjetiva onde tudo converge para a sua dor. Ao arrastar as correntes destes ressentimentos, se amarra ao outro tornando a vida muito menos prazerosa e produtiva. Não tarda para que as dores da alma se expressem no corpo, fazendo com que adoeça gravemente.
Quando não perdoamos ressentimos a dor do já vivido e transformamos algo que poderia ser passageiro, em eterno. Vejamos um exemplo: Maria não perdoa sua mãe por ter negligenciado suas necessidades emocionais quando era uma criança. Sente-se triste e sem esperanças, pois ao olhar para o lado, percebe mulheres mais seguras e bem resolvidas. Atribui seus defeitos ao fato de sua mãe não ter podido lhe dar o que “merecia”. Já falecida, a mãe nem soube das amarguras da filha. No entanto, Maria ainda revive a privação emocional atribuída a sua infância. Não consegue perceber que sua genitora não tinha recursos internos para tratá-la com o carinho e atenção, pois sua vida também não tinha sido muito fácil. Ao não perdoar, a tristeza se perpetua e o foco é a dor. Se pudesse entender, e isto faz parte do processo terapêutico, que a sua mãe não tinha outra possibilidade e nem escolha, teria a perdoado e liberaria sua energia vital para seus projetos pessoais.
Qual seria, então, a vantagem de não perdoar? A mãe já não pode mais reparar os danos causados. Não há nada a fazer a não ser utilizar de empatia e se colocar no lugar da outra, que se tivesse alternativa, teria escolhido ser melhor do que foi. Maria não consegue ficar bem e, rancorosa, afasta as pessoas que teriam possibilidade de lhe dar o amor que tanto almejou. Ninguém ganha com o fato de não perdoar. É um jogo sem vencedor.  

Por que perdoar é tão difícil?


Simplesmente porque as pessoas confundem perdão com reconciliação, esquecimento ou até mesmo com cumplicidade. Perdoar não significa que você tenha que “ficar de bem” com seu algoz, nem muito menos “passar uma borracha” no que ele fez. Também não tem a ver com concordar com a atrocidade cometida. É por conta deste erro cognitivo que, muitas vezes, os sujeitos ficam presos ao fato negativo. Perdoar significa somente ressignificar o ocorrido, compreendendo a partir da perspectiva do outro. É difícil? Nem tanto.

Como posso aprender a perdoar?


Você pode começar a treinar a partir de agora. Imagine algo que considera imperdoável. Por exemplo, o fato de ter sido traída (o) por alguém. Pense bem se vale a pena ressentir a amargura causada pelo evento. Em primeiro lugar, nada irá mudar o passado. Em segundo, reviver a emoção só fará mal a você. Então, lembre-se do acontecido com compaixão e procure entender a razão ou o limite do outro para  fazer o mal que fez.  Agora, libere está pessoa e vá viver a sua vida, concentrada nos aspectos positivos que esta pode lhe oferecer.

Como o perdão pode melhorar a saúde do corpo e da alma?


Muitas pesquisas têm sido realizadas para comprovar o poder terapêutico do perdão. Atualmente, este assunto deixou de ser exclusividade da religião e tomou espaço na ciência. A questão é tão séria e contundente  que vários estudos científicos acontecem neste sentido  demonstrando  que não apenas a depressão, mas dores de cabeça e musculares (principalmente nas costas), fibromialgia, gastrite, úlceras, problemas cardiovasculares e gastrointestinais, hipertensão, doenças alérgicas, urticárias e outras enfermidades são causados pela incapacidade de perdoar.
 Liderado por cientistas, psicólogos, políticos, entidades religiosas e médicos, este é um movimento mundial que tem crescido nos últimos anos. O objetivo é propagar os benefícios do perdão. Pelo menos cinquenta estudos são realizados atualmente, como parte de um programa chamado Campanha para a Pesquisa do Perdão (www.forgiving.org). Vítimas da guerra no Vietnã, mães que perderam filhos no conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, casais que viveram a infidelidade conjugal e pessoas que tiveram parentes assassinados são exemplos do universo pesquisado. 
Em 2001, Charlotte Van Oyen Witvliet, professora de Psicologia do Hope College, em Michigan, EUA, e seus colegas fizeram uma experiência com setenta e um voluntários. Pediram que se lembrassem de alguma ferida antiga, algo que os tivesse feito sofrer. Nesse instante, registrou-se o aumento da pressão sanguínea, dos batimentos cardíacos e da tensão muscular, reações idênticas às que ocorrem quando as pessoas sentem raiva. Quando orientados a se imaginarem entendendo e perdoando as pessoas que lhes haviam feito mal, se mostraram mais calmos, e com pressão e batimentos menores. Este estudo provou como os sentimentos interferem na organização do nosso corpo físico e como o ato de perdoar pode melhorar as funções vitais.
Em Stanford, na década de 90, Fred Luskin criou um projeto para o perdão, onde o descreve como uma forma de atingir a calma e a paz, tanto com o outro quanto consigo mesmo. A terapia que propõe encoraja as pessoas a terem maior responsabilidade sobre suas emoções e ações e serem mais realistas sobre os desafios e quedas. Para Luskin o perdão não elimina o fato, apenas o torna menos importante. Perdoar significa ficar em paz mesmo tendo sofrido um mal. É preciso que o prejudicado leve a vida em frente, o que não o impede de procurar justiça, mas sem uma perspectiva rancorosa ou transtornada.
Robert Enright, da Universidade de Minessota, em 1994, inaugurou o Instituto Internacional do Perdão. Sua intenção era aplicar anos de pesquisas e partilhar experiências sobre afetividade e perdão na cura pessoal e progresso da paz mundial. Seus estudos mostraram que quem perdoa melhora sintomas de ansiedade e depressão. Em um dos projetos junto à Dra. Suzenne Freedman, da Universidade de Northern Iowa, com vítimas de incesto, comprovou que as mulheres sofrendo de distúrbios emocionais por 20 ou 30 anos, levaram aproximadamente um ano para perdoar seus algozes. Eles encontraram também resultados positivos similares com diferentes populações: homens e mulheres viciados em drogas, pacientes terminais de câncer, casais próximos ao divórcio, adolescentes encarcerados e pacientes cardíacos.
Percebemos, portanto, como a ciência tem evoluído na compreensão e aplicação do poder terapêutico do perdão. A Psicologia Positiva faz parte deste movimento e o compreende como fundamental para o processo de cura e potencialização do indivíduo. Aprender a perdoar é um continuo ato de desembaraçar os pensamentos emaranhados na dor. O trabalho terapêutico fornece ferramentas que permitem acionar este processo. A prática clínica tem comprovado que transtornos causados pelas dores dos ressentimentos e restos de mágoa apresentam solução à medida que os pacientes aprendem a perdoar o outro e a si mesmos. Assim, meus queridos leitores, exercitem o perdão e sintam-se liberados para viver de forma mais intensa, saudável e produtiva.
Não perdoar é como pegar um carvão em brasa para jogar no outro: você, com certeza, será queimado.” (Buda).

Até mais!!!

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