RESILIÊNCIA: QUANDO OS PROBLEMAS TE EMPURRAM PARA FRENTE
Walkíria, 35 anos, mulher linda, médica, já tinha passado por várias situações desagradáveis na vida, mas nada se comparava ao que estava por vir. Saiu num dia chuvoso para uma festa com seu marido e ao voltar, numa crise absurda de ciúme, ele incendiou a casa, na tentativa de matá-la. Tudo foi consumido nas chamas, mas ela conseguiu escapar. Perdeu todos os seus livros, fotos importantes e irrecuperáveis, jóias, documentos, mas não perdeu a sua identidade. Junto aos objetos foi também a noção de família que havia criado. Perdeu a ilusão de que vivia uma história de amor. Caiu por terra o que tinha projetado para a sua vida. Estarrecida diante da situação, sofrendo muito, até chorou! Mas, imediatamente, arregaçou as mangas e começou a tratar de reconstruir o que havia sido destruído. Dor? Claro que ela sentia. Era muita e era física! Mas isto não a impedia de seguir na sua reinvenção. Hoje está muito bem; a casa foi reconstruída e a vida também.
Esta é a história de uma paciente, mas poderia ser a sua. Com
certeza você deve ter passado por situações muito difíceis! De que maneira
atuou nesta ocasião? Como está reagindo às suas tragédias pessoais? Existem
pessoas que sucumbem ao menor sinal de estresse. Não se sentem capazes de ter
atitudes e se recuperar numa situação traumática. Pensam assim: “Como eu sou
infeliz! Isto só acontece comigo!” ou “Caramba, meu amigo tem uma vida
perfeita, a minha é uma droga!”, ou mesmo, “Nunca conseguirei sair desta
situação!”. Não conseguem entender que viver significa correr riscos e que
todos nós estamos expostos às adversidades na vida. Elas insistem em pensar que
tal fato não poderia ter acontecido, que nunca mais irão se
recuperar de uma desgraça tão grande. Se perdem alguém, não entendem que este é
o curso “natural” da história; se passam
por dificuldades financeiras, não contam
que suas ações os levaram a isto; se nasceram menos favorecidos, não
percebem que suas atitudes podem mudar este status; se adoecem, não
consideram que somos humanos e perecemos;
se terminam um relacionamento, não admitem que encerraram um ciclo e podem começar outro. Elas se apegam a dor e a partir daí montam
uma rede sintomática que provavelmente as levarão à doença física e mental.
Alguns ainda
desenvolvem o que chamamos de TEPT (Transtorno do Estresse Pós-Traumático), uma
combinação macabra entre ansiedade e depressão, que pode levar ao abuso de
substâncias químicas e até mesmo ao suicídio. Isto é gravíssimo! Indivíduos com
TEPT revivem a situação traumática a todo momento e evitam sempre qualquer
evento que lembre o fato corrido. Se Walkíria desenvolvesse este transtorno,
provavelmente ficaria com aversão à velas, fósforos e\ou dias chuvosos, pois
estes fatos lembrariam o incêndio ocorrido. Ela também não reconstruiria a sua
casa nem a vida amorosa. É comum, em grandes tragédias, pessoas
com TEPT sofrerem com uma espécie de “culpa por ter sobrevivido”. Exemplo disto são indivíduos que escapam de
acidentes onde há vítimas fatais e se martirizam por anos achando que não
mereciam ter saído ilesos, que poderiam ter se esforçado mais para salvar os outros. Isto é muito triste, queridos! É
uma espécie de “morte-viva”.
Mas fiquem calmos, após diversas pesquisas, a Psicologia
Positiva descobriu que podemos aprender a ser resilientes. Este é um conceito
novo em Psicologia. O termo foi emprestado da Física e significa a capacidade
do indivíduo se recuperar de adversidades. Alguns sujeitos são mais elásticos e
voltam com facilidade, e muitas vezes até melhor, das pequenas tragédias
cotidianas. Outros funcionam como lata, depois de amassados por estresses do
dia a dia, não voltam para o lugar. Permanecem assim, avariados eternamente.
Todos estamos sujeitos à derrotas na nossa trajetória. O
importante é sabermos como transformar momentos difíceis em estímulos para
superação. A Psicologia Positiva sugere que é absolutamente necessário que
regulemos nossas emoções. Para isto é preciso que façamos sempre diante das
nossas pequenas ou grandes tragédias cotidianas uma reavaliação cognitiva. Ou
seja, é preciso que mudemos de perspectiva para entender o que nos acontece de
forma diferente, pois afinal o crivo da realidade é determinado por nós. Por
exemplo, quando rejeitados num processo seletivo qualquer, os menos resilientes
entendem que não são bons o suficiente, se paralisam e provavelmente se
deprimem. Os mais resilientes, ao contrário,
repensam as suas ações, entendem que provavelmente precisam se aprimorar mais e
partem em busca de novas alternativas.
O aumento das emoções positivas também favorece a
resiliência. Para isto é preciso reconhecer o que lhe faz bem e atuar neste
sentido. Uma técnica interessante é escrever diariamente pelo menos três bons
acontecimentos ao longo do seu dia.
Podem ser coisas bem pequenas que, aparentemente, você não daria muita
importância como, por exemplo, quando alguém lhe faz um pequeno elogio; quando
alguém lhe sorri sinceramente lhe desejando um bom dia; quando o trânsito está
livre na hora do rush. Dar valor a coisas como estas, aumenta o nível de nossas
emoções positivas, pois estamos acostumados a não reconhecer quando tudo dá
certo. Valorize o que é bom.
Uma outra maneira de aumentar a nossa resiliência é
reconhecer e utilizar nossas forças de caráter ou qualidades humanas.
Criatividade, humildade, prudência, capacidade de perdoar, capacidade de amar,
liderança, perseverança, entusiasmo, generosidade, inteligência social, são
exemplos de forças que cada um de nós possui e que podemos lançar mão para uma
atuação mais plástica no mundo. Mas, para usarmos nossas forças é preciso
reconhecê-las. Você sabe quais são as suas? Se não sabe, é preciso pesquisar,
pois auto-conhecimento é muito importante quando se quer aprimorar a
existência. Em que você é bom?
Priorize os relacionamentos. Pesquisas demonstram que
fortalecer os laços amorosos e manter uma rede social próxima e solidária
ajudam a desenvolver resiliência. Então, meus amigos, cheguem juntos, fiquem
pertos, solidão não leva ninguém a lugar nenhum e ainda promove estados
depressivos. Comemore, ria e na dor, compartilhe! Seus amigos, seus amores,
seus pares, os ajudarão nos momentos difíceis. Conte com sua rede solidária.
Mas, não esqueça de ser breve em seu relato. Ninguém suporta por muito tempo
uma pessoa que vive a reclamar.
Fiquem atentos, pois
nem sempre o trauma é integralmente negativo. Ele pode criar condições
propícias para o crescimento! Para isto é preciso que você aceite-o sem culpa
por ter sobrevivido. É preciso que você
crie uma nova identidade, renascendo
como Fênix das cinzas, mais fortalecido e perto da imortalidade. Separações, doenças, perdas fazem parte da
história de todos nós. Estamos vivos e isto significa que ao longo da nossa
estrada seremos obrigados a passar por caminhos estreitos. Teremos que nos
encolher, em determinados momentos, para depois nos aprumar de volta. Como Walkírias podemos sair por aí nos
apresentando como sobreviventes das
nossas tragédias pessoais, ou podemos optar permanecer comprimidos como molas e aguentar a pressão, nos furtando de viver a vida com cores mais
intensas. A escolha é sua.
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