Ciúmes: doença ou sinal de amor?
O que você acha? Já parou
para pensar sobre isso? Você se considera ciumento (a)? Muitas vezes a pessoa
que sofre e faz o outro sofrer por ciúme nem percebe o quanto desperdiça a sua
existência, tornando um relacionamento que poderia ser bom em um verdadeiro
inferno. As justificativas são muitas:
“tenho que cuidar do que é meu”; “se ele olhar para outra mulher, pode não me
querer mais”; “amigo homem não tem amiga mulher”; “se ele (a) for embora, vou
morrer”. Mas o que, de fato, está na base desse sentimento são o medo do
abandono, a baixa auto-estima e a dependência emocional.
Catarina era uma mulher
linda. Adorava a vida e se divertia muito. Irradiava alegria e, por isso, todos
gostavam da sua companhia. Conheceu
Walter que pareceu o par perfeito para
sua estada nesse mundo. Ele era brilhante, um excelente profissional, gostava
de viajar e de cinema. Foi também o que a atraiu. Era mais velho que ela, o que
lhe parecia garantir certa segurança. O início do relacionamento amoroso foi
maravilhoso. Muitas risadas que contribuíram para um quadro típico de paixão.
No entanto, aos poucos, a insegurança foi minando a relação e o que era amoroso
tornou-se tenebroso. Com medo de perder o seu parceiro, Catarina começou a
controlar seus passos. Não admitia que ele se atrasasse, nem que olhasse para
os lados quando saiam para tentar se divertir. Qualquer mulher, que
considerasse atraente, se tornava pauta para discussões intermináveis que se estendiam
durante uma madrugada inteira. Muitas vezes o problema se arrastava para o dia
seguinte. O que era leve tornou-se um fardo. Nenhum dos dois tinha paz. Uma
raiva gigantesca era o sentimento mais comum nela e ele vivia com medo de mais
um escândalo. Não levantava os olhos e nem olhava para os lados, pois qualquer
coisa poderia ser considerada paquera. Os dois sofriam. Quando Walter decidiu que não queria mais a
relação doentia, Catarina, tomada de ódio, colocou veneno em sua comida. Hoje
ela cumpre pena no Talavera Bruce, no Rio de Janeiro.
São incontáveis os casos de
relacionamentos destruídos por conta desse sentimento degradante que chegam ao
consultório. E, muitas vezes, o amor que
era bom, já nem existe mais. Só sobrou a insegurança e o medo de ser deixado
por outra pessoa. Mas, quando o que chamamos de amor pode se tornar nocivo e
arrebatador? Que sentimento é esse, que quando mal administrado causa tragédias
irreparáveis? Quando, sem perceber, levamos nossa emoção, que a princípio
parece nobre, para um lugar que nos faz adoecer? Paixão e amor tem a mesma
origem?
Quando nos apaixonamos há
uma comoção corporal, que segundo a pesquisadora Cindy Hazan, da Universidade
Cornell de Nova Iorque, dura de 18 a 30 meses. Tempo suficiente, segundo ela,
para que o casal se conheça, copule e gere uma criança. A paixão tem data para
acabar e essa é uma programação biológica.
Muitas pessoas acham que é o
coração quem comanda a paixão. Ledo engano. Tudo começa no cérebro e se espalha
pelo corpo como um tsunami hormonal que invade cada entranha dos nossos órgãos.
Dopamina, feniletilamina e ocitocina, substâncias comuns em todas as fases da
existência, são potencializadas nesse período inicial do relacionamento
amoroso, causando aumento da pressão arterial, da freqüência respiratória e dos
batimentos cardíacos. Causam também dilatação das pupilas, tremores, rubores,
além de falta de apetite, concentração e sono. Mas, com o tempo, o organismo
vai estabilizando seus efeitos e toda a intensidade da paixão se desvanece.
Agora é a fase em que o casal precisa escolher: ou se separa e vai em busca de
novas e intensas experiências ou constrói uma relação mais branda, onde o
companherismo, o afeto, a tolerância, a admiração e o respeito tornam-se a
tônica da existência. É aí que o amor
começa a se desenvolver, originário da paixão inicial.
O problema do ciúme surge
quando nos percebemos ameaçados. Isso quer dizer que a sua base é a insegurança.
Este é um sentimento que produz angústia e pode atingir formas doentias,
abalando a nossa saúde mental. Fisiologicamente ele é controlado pela mesma estrutura
cerebral palco da paixão: núcleo accumbens, que faz parte do sistema de
recompensas e nos motiva a proteger o objeto do nosso desejo. Quando estamos
apaixonados, um hormônio chamado ocitocina, aumenta a produção de dopamina no
nosso cérebro, por isso ao vermos a pessoa amada, ouvirmos sua voz ou lembrarmos
dela, liberamos esse hormônio que hiperestimula
a liberação de dopamina no núcleo accumbens, criando uma espécie de fissura
pelo objeto de desejo. “O mecanismo cerebral é
idêntico ao de se viciar em cocaína”, diz o neurocientista Renato Sabbatini,
professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas.
Assim, a ameaça de falta de abandono produz uma espécie de “crise de
abstinência amorosa”, tornando a pessoa ciumenta uma dependente química do
amor. Ela precisa de mais dopamina. Quanto maior a intensidade desta
dependência, maior o grau de ciúme.
Com a prática clínica
percebemos que não há nenhum grau de ciúme que seja produtivo ou satisfatório,
apesar de psicólogos evolucionistas afirmarem que essa seria uma forma de mantermos
a pessoa bem pertinho da gente. O problema é que o ciumento (a) não percebe
quando esse sentimento exacerba. Há uma espécie de cegueira da lógica e o que
começa a pautar as ações do indivíduo são emoções de medo, raiva e desconfiança
e o que era colorido e cheio de graça começa a perder a cor. Então, o sujeito apaixonado perde de vista a
manutenção do bem-estar, tanto dele, quanto do seu parceiro e começa a cometer
atrocidades, desrespeito à individualidade e agressões tornando a vida de todos um verdadeiro
inferno. As preocupações com uma possível infidelidade começam a causar
sofrimento e prejuízo no seu funcionamento normal. E, o que poderia ser uma
saudável história de amor, se transforma em ódio e obsessão. Os ciumentos
sofrem e fazem sofrer. Transformam a relação em um perigoso jogo, onde na briga
para não perder acabam sendo derrotados. Por isso, caros leitores, em caso de ciúmes
exagerados ou não, prestem atenção. A quantidade de ciúmes que você sente do
outro não significa que você o ama. Pode sim, sinalizar um transtorno mental que
pede tratamento urgente, antes que o caldo entorne e o casal passe a fazer
parte das terríveis estatísticas que põe a cena passional no centro dos crimes
mais hediondos da face da terra.
ALGUMAS DICAS PARA DOMAR ESSE MONSTRO
- Concentre a sua energia em você. Multiplique os seus interesses. Se dedicar exclusivamente ao seu par é índice de pobreza existencial.
- Ao perceber algum sinal de que as coisas não andam bem na relação, sente-se e discuta o problema. Não crie fantasmas.
- Se você não confia no seu parceiro (a), repense a relação. Talvez não valha a pena o investimento.
- Não sinta medo de ficar sozinho (a). Existem outros modos de exercer o seu amor. Ser solteiro (a) te dá a possibilidade de exercitar a amizade e multiplicar seus prazeres.
- Não esqueça, o amor é seu e você pode investi-lo onde quiser.
- Finalmente, se perder uma pessoa, não esqueça que terá todas as outras do planeta como possibilidade de objeto amoroso.
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