O Esquema de Abandono

O ESQUEMA DE ABANDONO

A HISTÓRIA DE ÉRICA


Érica* (27 anos), buscou atendimento depois de tentar se matar. Se sentia absolutamente infeliz, sua vida não tinha mais sentido, estava com muita raiva e não se via incluída em lugar nenhum. Seu marido havia a trocado por outra mulher. O abandono, para Érica, era da ordem do insuportável. O que mais a abatia não era o amor que sentia por Jorge (32)  ou a saudade que podia ecoar em seu peito, mas o fato de ter sido preterida. A cola que os unia, definitivamente não era o amor.
Enlouquecia todas as vezes que imaginava seu ex-marido com a atual mulher. Passava por momentos de muita agressividade e outros de profunda apatia. Tinha feito diversos escândalos no trabalho dele e ameaçado de morte, Maíra, o novo amor do seu antigo parceiro. Abusava do álcool e das drogas e se cortava sempre que se sentia desamparada.
Este tipo de comportamento era recorrente. Todas as vezes que o abandono a ameaçava , se comportava exatamente da mesma forma. Teve muitas relações “amorosas”  na vida e todas as vezes se apaixonava com obsessão. Sempre escolhia parceiros instáveis, comprometidos e com alta probabilidade de abandoná-la.  Isto “servia” para confirmar a sua crença central de que todas as pessoas que ama vão deixá-la e rejeitá-la.
O diagnóstico era de Transtorno de Personalidade Boderline (TPB) cujo esquema principal é o  abandono. Pacientes com este tipo de esquema se apegam demais às pessoas próximas, são possessivos e gostam de controlar o outro, tem ciúmes demasiados e estão sempre competindo. As emoções típicas deste tipo de transtorno são ansiedade crônica com relação à perda das pessoas, tristeza ou depressão quando há uma falta real ou percebida e  raiva intensa daqueles que a deixaram.
A vida de Érica não foi muito fácil até ali. Seu ambiente familiar na infância era inseguro  e a ela sofria de privação emocional. Tinha um irmão mais velho diagnosticado com déficit de atenção e seus pais, na maior parte do tempo, só se dedicavam a ele.  Com frequência este irmão abusava dela física  e sexualmente. Sua mãe era demasiadamente crítica em relação à ela e intolerante com as suas emoções. A infelicidade de Érica a incomodava e ela deixava bem claro que não gostava da filha. Inclusive expressava isto verbalmente. Dizia também que ela era uma “desgraçada” e Érica acreditava.  Seu pai era distante e deprimido. Não ficava muito tempo em casa, vivia em seu próprio mundo.
Nenhum dos pais a protegia, ambos eram emocionalmente frios e distantes e a culpavam pelo mau comportamento do irmão. Assim, Érica cresceu acreditando que ninguém deveria cuidar dela pois não merecia atenção e nem afeto. Por isto perpetuou o esquema de abandono ao longo de sua existência, pois precisava criar “sintonia” com a sua crença central.
O objetivo da terapia foi fazê-la entender que pode fazer escolhas amorosas mais acertadas e torná-la mais consciente de suas necessidades emocionais. Para ela, parecia tão “natural” que estas necessidades não fossem satisfeitas, que não podia supor a possibilidade de ser amada.
Atualmente Érica está super bem casada e feliz, com alguns altos e baixos emocionais, no entanto sentou na cabine de comando da sua vida e consegue administrar melhor as suas emoções. 
(Todos os nomes aqui são fictícios).

Até Breve,

Adriana Santiago
CRP: 05-20345
Psicologia Positiva


Comentários

  1. Maravilhosa e clara a explicação do esquema de abandono. Quando o paciente toma o conhecimento do esquema ele passa a vigiar seus comportamentos e ai se inicia a reestruturação cognitiva e o resultado é sempre muito positivo.
    Parabens.

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  2. Muito obrigada, minha querida Fátima. A intenção é mesmo deixar claro como funciona os esquemas.

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  3. Excelente explicação para o esquema de abandono, nada como psicoeducar o paciente a respeito de seus esquemas, pois assim ele se torna consciente de seus comportamentos disfuncionais podendo assim tentar modificá-los.

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