O Perdão Para a Sexualidade


           O cristianismo inaugurou a culpa na civilização, pois trouxe como principal novidade a ligação entre carne e pecado. E foi Paulo “O apóstolo dos Gentios” (9-64) quem levou a moral cristã para o cerne da cena cultural. Considerado, depois de Jesus, a figura mais importante desta “nova” religião, fez do cristianismo uma doutrina acessível e mudou o curso da história, criando  argumentos profundos e convincentes à respeito do significado do Cristo.
           Paulo, de família abastada, oriundo de uma educação clássica, tinha como nome verdadeiro Saulo, pois provinha de uma família judia da diáspora. Era um cidadão Romano que começou sua jornada perseguindo cristãos, mas converteu-se após uma visão do Cristo ressuscitado. Segundo Regina Navarro em seu Livro do Amor (2012) ele deturpou os ensinamentos de Jesus e transformou o cristianismo numa religião universal. Foi ele quem emancipou o judaísmo do cristianismo, criando um irreversível corte no entendimento da supremacia divina. Os judeus ortodoxos se ofenderam quando ele pregou que Jesus era o próprio Deus.
            Apesar de não ter conhecido Jesus Cristo,  Paulo pregava em seu nome repetindo o que Ele havia dito e acrescentando o que achava correto. Também escrevia cartas que mais tarde foram consideradas sagradas. No centro do seu discurso estava o antissexualismo, que se tornou um refrão obsessivo no decorrer dos tempos. A partir de Paulo, a condenação à sexualidade só fez crescer. São Paulo e vários outros cristãos deixaram as mais duradouras impressões em todas as ideias cristas sobre a repulsa ao sexo.  (Navarro, 2012).
         Em suas pregações, Paulo insistia na oposição entre carne e espírito e salientava que a carne era a fonte principal de todo o pecado. Dizia que os homens deveriam permanecer celibatários, as viúvas castas e as solteiras virgens. Não aceitava também o casamento, senão como um mal menor que também devia ser evitado. Ele dizia, por exemplo, que o era um pecado no caminho da salvação, mas que era melhor casar-se do que arder em desejo.  Era considerado mau tudo que fosse relacionado a carne. E o argumento era o de que a mulher (como um todo) e o homem (da cintura para baixo), eram criações do demônio.  
        O ato sexual tornou-se repulsivo, degradante, indecoroso e todo o prazer deveria ser evitado a qualquer custo. O horror à danação eterna, com todos os tormentos do inferno, era constante nas pregações dos novos cristãos. Para os pais da Igreja, o sexo era abominável: “uma experiência da serpente”, “um sistema de vida repugnante e poluído”.
          Para que não houvesse atração entre os cristãos puros, a falta de higiene se tornou pré- requisito para a salvação. São Jerônimo, por exemplo, afirmou que uma virgem adulta jamais deveria banhar-se. Na verdade, deveria envergonhar-se de ver sua própria nudez. O eremita Santo Abraão viveu cinquenta anos sem jamais lavar os pés e rosto. Santa Eufásia entrou para um convento com cento e trinta freiras que nunca lavaram os pés e estremeciam à ideia de banho. Os piolhos eram chamados de “pérolas de Deus” e estar sempre coberto por eles era a marca da santidade. (Navarro, 2012). E assim, a sujeira tornou-se virtude e qualquer coisa que tornasse o corpo mais atraente era considerado um incentivo ao pecado.  
       O repúdio e a atenção à sexualidade eram imensos. Até mesmo os mortos eram considerados sexuados e por isto, um édito da Igreja, ordenou que corpos femininos e masculinos não deveriam ser enterrados lado a lado. A aproximação só era possível quando os corpos estavam quase totalmente decompostos.
    No fim do século III era muito comum que homens e mulheres fugissem para o deserto em busca da pureza sexual. Eles se afastavam de comunidades civilizadas, a fim de viver uma vida monástica e ascética. Ocupavam  grutas e cabanas. Mas os mais devotos preferiam os poços secos, covis de feras abandonados, ou até mesmo túmulos. Não se lavavam e exalavam um cheiro fétido. Na luta pela castidade, o cristão deveria se privar do sono, do conforto e da alimentação. Temendo à danação eterna, eles se autoflagelavam, torturavam e  se mortificavam com o propósito de expiar culpas ligadas ao desejo sexual.
         Navarro (2012) nos conta que um monge, sabendo da morte de uma mulher que conhecera, esfregou seu manto no corpo em decomposição, para combater, com terrível odor que exalava, a imagem atraente que lhe causava desejo. A volúpia  era tanto que os celibatários ejaculavam involuntariamente, o que causava grande horror e frustração. Como consequência, aumentavam o grau de sacrifício do seu próprio corpo para compensar o pecado da luxúria. O contrário disso, a supressão da emissão de esperma, era vista como a verdadeira graça dos que atingiam a castidade.
          Desta maneira o cristianismo veio para criticar os luxos e castigar os prazeres comuns na Grécia Antiga e em Roma. E até hoje carregamos esta culpa pela sexualidade em sua pura essência. Conscientemente ou não, homens e mulheres possuidores de desejos sexuais normais, tornam-se obcecados pela culpa. Muita gente renuncia à sexualidade e isto gera muitos conflitos. Acreditam que a imagem do corpo nu, experimentando prazeres sexuais são obscenas e nocivas. Existe um medo absurdo de não conseguirem entrar no Reino dos Céus se derem vazão aos seus desejos.
          Atualmente a  OMS (Organizaçao Mundial da Saúde) preconiza que a atividade sexual é índice que mede a qualidade de vida das pessoas, mas mesmo assim, muita gente  ainda sofre por conta de seus desejos sexuais, suas frustrações, seus temores, suas vergonhas e suas culpas.
         Um estudo americano provou que fazer sexo duas vezes por semana, no mínimo, ajuda a diminuir a incidência de diabetes e a pressão arterial. O American Journal of Cadiology garante que exercer a sexualidade ajuda a proteger o coração. A Universidade de Nova York diz que o sexo melhora o sistema imunológico, suprime a dor e reduz a enxaqueca. Carmita Abdo, médica do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo afirma que “Pessoas que tem relações sexuais com regularidade conseguem equilibrar seus hormônios e estimular suas potencialidades, além de aumentar a autoestima e o animo para trabalhar e enfrentar os problemas cotidianos”. Na Inglaterra, Alemanha e França, pesquisadores provaram que “pessoas que praticam sexo com frequência vivem mais e correm menos risco de desenvolver câncer”.
             O que isto tudo quer dizer? Que a culpa que pesa sobre as questões sexuais está muito mais ligada à aspectos religiosos, do que propriamente à questões internas do indivíduo. A moral cristã abomina a sexualidade e traz para o sujeito o peso de uma negação que culmina em doenças psíquicas e físicas, comumente irreversíveis. Muitas vezes o sexo é visto como algo perigoso, imoral, mas podemos perceber através de vários aspectos que  é bom e faz bem para o corpo e para a alma.

 

 
Muito Obrigada

Adriana Santiago

CRP: 05-20345

Neuropsicóloga Positiva, Coach pessoal e empresarial, escritora, palestrante, autora do blog Papo Cabeça com Adriana Santiago.

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