DEPRESSÃO OU TRISTEZA, O QUE REALMENTE VOCÊ SENTE?
Todos nós passamos por
adversidades ao longo da vida. Isso é totalmente natural e inevitável. Essas
situações nos fazem ficar tristes. A
tristeza é uma emoção básica que nos serviu como sinalizador para evitar
determinados comportamentos e nos fez sobreviver como espécie humana. Quando entristecemos,
sabemos o porquê. Contornamos a dor. Por exemplo, o pai da Maria faleceu. Ela
está triste, e sabe o motivo, mas reconhece que as outras áreas de sua vida
estão funcionando muito bem. Isso não necessariamente, fez da Maria uma pessoa
deprimida. A depressão tem características bem diferentes. Nela, há uma espécie
de infecção generalizada e o indivíduo já não sabe mais onde dói. Parece que
tudo se transforma em um grande nada cinzento.
Vazio no peito, falta de
esperança, perda de interesse ou prazer em tarefas cotidianas, alteração do
apetite e do sono, agitação ou lentidão psicomotora, fadiga intensa, sentimento
de inutilidade ou culpa excessiva, capacidade diminuída de pensar e agir, ideia
de morte recorrentes. Estes são os sintomas que assolam onze milhões de
brasileiros. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2030, a depressão
matará mais do que a Aids, câncer e
doenças cardiovasculares. Isto se dará por conta do número de suicídios que
pode causar e também porque o organismo fica debilitado por conta desta grave condição,
favorecendo seu adoecimento. Você se inclui neste quadro?
As mulheres têm duas vezes mais
chances de diagnóstico. Ou seja, para cada homem, existem duas mulheres
deprimidas. Por que será? Especialistas
afirmam que a ruminação é um fator importante neste aspecto. Mulheres pensam
mais vezes sobre o mesmo assunto. O pensamento vai e volta, como o capim na
boca dos ruminantes. Já os homens, na maior parte das vezes, se entregam a
atividades que os desviam do assunto: vão torcer para o time de futebol, jogar
tênis, ingerir álcool, se afastando do tema que o incomoda. Por isso, são
sub-diagnosticados, ou, de fato, deprimem menos.
No que se refere ao surgimento,
quanto mais o tempo passa, mais crianças têm sido diagnosticadas. A depressão
manifesta-se, atualmente, dez anos mais cedo que na geração passada. De 2008
até agora o número de crianças deprimidas subiu de 4,5% para 8%. São números
alarmantes e que nos obrigam a concluir que isso é uma coisa de extrema
relevância.
Mas, qual seria a causa deste
aumento significativo? Segundo Martin Seligman (2005), pai da Psicologia Positiva,
a razão está no olhar sobre nós mesmos, na impressão de fracasso diante dos
desafios da vida. A sensação de que precisamos ser perfeitos também contribui
para agravar o quadro. Ele ainda ressalta que a maneira como explicamos a nós
mesmos a causa das adversidades pode fazer toda diferença. Se você tem um
estilo explicativo otimista, provavelmente estará a salvo de desenvolver este
mal. Mas, se for pessimista, já é meio caminho andado para a lama subjetiva. Aquele
que tende a valorizar mais as coisas ruins, larga na frente na possibilidade de
desenvolver esta doença. Caminha a passos largos rumo ao fundo do poço. Isto quer dizer que não é o problema em si que
importa, mas a maneira como você olha para ele. Como digo sempre: a realidade é
uma questão de interpretação.
Carolina teve uma infância
difícil, pobre e sofria muitas agressões físicas e verbais. Atualmente é
bem-sucedida, tem uma família organizada e tenta não repetir os erros que
sofreu no passado com seus filhos. Sempre acreditou que aquilo era temporário,
que sairia daquela condição. Ela desenvolveu o modo de pensar otimista. Rafaela, que não teve uma infância tão difícil
é deprimida e sofre de falta de esperança crônica. Não acredita no futuro.
Desde criança atribuía todas as adversidades ao azar e sua frase preferida era:
“só podia ser comigo!”. Achava que tudo que acontecia de errado com ela e com
os outros era culpa dela e que nada poderia mudar isso. Sendo assim, uma
pequeno momento de dor se estendia até o mais absoluto sofrimento. Elas tinham modos de pensar diferentes.
Em uma pesquisa muito
interessante realizada na década de 1960, Martin Seligman e outros estudiosos
fizeram experimentos com três grupos de cachorros. O primeiro foi colocado em
uma baia e, quando levavam um choque, tinha autonomia para, com o fucinho
desligar o botão e, assim, o desconforto cessava. O segundo grupo recebia o
choque, mas não tinha controle e nada do que fizesse parava a sensação
desagradável. Eles tentavam inúmeras vezes, mas não conseguiam. O terceiro
grupo era de controle, portanto, não recebia choques. No segundo momento da
pesquisa, todos os cachorros foram transferidos para um lugar onde poderiam,
facilmente, escapar dos choques. Adivinhem o que aconteceu? Somente os
cachorros das baias um e três fugiram do desconforto. Os da baia dois, que
aprenderam que nada do que fizessem adiantaria para fugir da dor, ficaram
inertes e nem tentaram sair da condição debilitante. Desamparo aprendido é o
nome deste experimento famoso que abre possibilidades para entendermos melhor
as razões da depressão.
É muito comum as pessoas falarem
desse mal como se fosse um vírus que se pega no ar. Ou como uma doença que não
dá chances ao indivíduo, como uma espécie de condenação que só pode ser tratada
com remédios. Não é verdade! A depressão é a expressão máxima do pessimismo e é
construída na vida do indivíduo que não estanca a dor no momento onde ela deve
ficar. Ele a estende, tornando-a perpétua. Seligman afirma que os
antidepressivos funcionam tanto para a depressão quanto os alucinógenos para
ver as coisas belas. Em ambos os casos, os problemas emocionais que podiam ser
resolvidos pela habilidade e pela ação do próprio indivíduo são transferidos
para um agente externo na busca de solução.
Em Abington, na Inglaterra, um
grupo de pesquisadores decidiu ensinar o otimismo às crianças entre dez e doze
anos, com sintomas moderados de depressão. Ao aprenderem pensar sobre a maneira
que pensavam, diminuíram a chance de generalizar o negativo, aumentaram as
esperanças sobre o futuro e se sentiram mais capazes de decidir sobre a sua
existência. Esta mudança cognitiva fez com que diminuíssem em cinqüenta por
cento a chance de desenvolverem depressão. Este experimento foi repetido na
Universidade da Pensilvânia com jovens adultos calouros e teve exatamente o
mesmo resultado. Ou seja, mudando a maneira como você se explica sobre as
coisas destrutivas que lhe acontece, você pode mudar sua condição em relação à
depressão. O pessimismo é um fator de risco para, enquanto o otimismo nos
protege dela. Nós não aprendemos ainda que devemos ensinar nossas crianças, e
adultos também, que, se mudarmos a perspectivas sobre o assunto, transformamos a
emoção que temos do mesmo. Podemos orientar para o otimismo com técnicas
comprovadas cientificamente. E isto não quer dizer que sairemos por aí dizendo
sempre: “vai dar tudo certo!”. Mas significa dizer que, mesmo dando errado, não será para sempre. E ainda mais, dar errado
faz parte do aprendizado. Somos humanos e é exatamente isto que nos
caracteriza.
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