INVEJA: UM SENTIMENTO ABOMINÁVEL
Podemos iniciar nossa conversa, definindo a palavra inveja, como uma dor profunda de quem não consegue realizar seus próprios sonhos. Pior ainda, quando o invejoso não sabe nem quais são seus objetivos e sente raiva quando percebe que seus pares conseguem coisas que lhe parecem atraentes. Causa uma espécie de sentimento de inferioridade e de desgosto diante do que satisfaz o outro, visto que, para o invejoso, o realizador lembra a sua própria incapacidade: “Nossa, ele fez, eu não sou capaz!” Este é o pensamento que baseia a emoção de raiva e tristeza contida nas seis letras que compõe este significante carregado de sentido negativo.
O dicionário Aurélio descreve inveja como “desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. Um desejo violento de possuir o bem alheio.” Já a psicologia define como “insatisfação e aborrecimento com a alegria do outro”. O fato é que ninguém gosta de reconhecer quando sente, pois sabe que não é bacana cobiçar riqueza, brilho, competência, amores e prosperidade alheia. Muitas vezes, é inconsciente e fica ali, na surdina, provocando comportamentos nocivos de desqualificação e desdém do fato realizado pelo próximo.
A sensação é tão avassaladora que estampa na cara do sujeito que cobiça o que é do outro a sua insatisfação. Cenhos franzidos, ombros encolhidos, lábios cerrados formam o conjunto de expressão não verbal de quem tem o famoso “olho gordo”. No que se refere ao dito com palavras, é muito comum o invejoso encher o seu alvo de adjetivos “negativos”. “Mas também ele......” iniciam, diversas vezes, o discurso desvalorizador. Ele ataca para não se sentir atacado pela competência alheia.
Este sentimento também dificulta a gratidão. Simplesmente porque há sempre a impressão que “se o outro está me dando, provavelmente quer me humilhar” ou, “se está me dando, é somente porque não quer mais.” A auto-estima de quem sente inveja está abaixo do nível do mar. Ele se percebe inferior e acha que “se eu não tenho, ele também não pode ter”. Também se considera vítima da má sorte: “Para ele foi fácil! Se fosse comigo, tenho certeza que não seria bem assim. A vida não facilita as coisas para o meu lado”.
Para aliviar o peso da emoção, muitos dizem: “tenho inveja branca”, como se o fato de ter uma cor mais amena fosse o suficiente para diminuir a ira e pesar. Devo ressaltar que existe uma diferença enorme entre inveja e admiração. Enquanto a primeira ancora o indivíduo na incompetência, posto que ele paralisa diante do realizador, a segunda o empurra para frente, pois torna o admirado modelo para o futuro. As frases de quem admira, geralmente, têm este tom: “Caramba, que legal! Ele conseguiu. Vou seguir seus passos e torná-lo modelo de atuação para a minha existência!”
A galinha do vizinho é sempre mais gostosa e sua grama está, invariavelmente, mais viçosa. Enquanto olha, pára e deseja o que é do outro, o invejoso se compara e sente vergonha de reconhecer o que falta nele. Logo depois, ataca e menospreza o objeto desejado para que desapareça seu sentimento de incapacidade.
Justina era assim. Não sabia o porquê, mas sentia uma raiva profunda da irmã e tentava, a todo custo, diminuí-la na frente dos amigos e parentes. Todas as vezes que Carolina, esforçada que era, conseguia o que queria, Justina era invadida por uma sensação de raiva que a fazia desdenhar dos feitos de sua irmã. A inveja a consumia. Este fato impossibilitava seu crescimento tanto pessoal, quanto profissional, pois, enquanto estava parada, ocupada em desqualificar todas as vitórias de Carolina, o trem da sua vida passava, sem que ela conseguisse entender como entrar na cabine para chegar ao seu destino. Na verdade, ela nem conseguia definir para onde queria ir.
Por isso, queridos leitores, prestem bem atenção nos pensamentos que dão base aos seus sentimentos. Quando se perceberem querendo ser o que o outro é, ou querendo ter o que o outro tem, perguntem-se: “Será este o meu caminho?”, “Quero, de fato, o que é dele?”,. Se a resposta for afirmativa, modele com seu ícone e tente transformar sua inveja em admiração. Se alegre com a vitória do outro e busque entender o que lhe faz feliz. Se ocupar com a alegria alheia lhe rouba o tempo necessário para construir uma história pessoal satisfatória. Quem tem olho grande não somente deixa de entrar na China, como também deixa de progredir. Se está difícil se encontrar, a psicoterapia é o melhor remédio. Procure um profissional competente e busque a sua verdade.
PENSAMENTOS TÍPICOS
INVEJOSO
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ADMIRADOR
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“Nosso vizinho comprou um carro novo! Só pode estar roubando no trabalho!”
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“Que legal! Nosso vizinho comprou um carro! Estou louco para trocar o meu também! Será que consigo financiar um pra mim?”
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“A Maria, apesar da idade, está linda! Também, com dinheiro é mole!”
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“Que linda está a Maria! O que será que ela anda fazendo para se manter tão jovial?”
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“Meu colega de trabalho recebeu elogio do nosso chefe. Sabia, ele é um puxa-saco do caramba!”
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“Preciso me esforçar mais para receber elogios do meu chefe!”
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“Nossa, esse casal vive viajando. Não sei onde consegue tanto tempo e dinheiro!”
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“Que legal esse casal conseguir viajar tanto. Vou me empenhar ainda mais no meu trabalho para fazer o mesmo nas minhas férias.”
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