O QUE É O AMOR PARA UMA MULHER?
Perguntinha básica esta, não é? Neste
momento não vamos tratar do amor como sentimento nobre e supremo que rege as
relações parentais e nem do amor divino. Aqui nós vamos abordar as relações
amorosas que se estabelecem entre homens e mulheres ao longo da
história da humanidade. E por que isto? Porque o nosso passado, invariavelmente,
nos dá base para o nosso comportamento atual e porque todo comportamento é
modelado por uma cultura. É por este viés que buscaremos entender a eterna e
infinita busca feminina pela completude, pela metade da sua laranja, pela tampa
da sua panela, pelo príncipe encantado que suprirá todas as suas necessidades e
anseios. Ao olhar para trás iremos nos deparar com peculiaridades
inacreditáveis. O amor, ao longo da história, foi reprimido, violentado,
normatizado, enquadrado! A cultura moldou o amor!
Descobriu-se que a primeira manifestação de
amor humano ocorreu há aproximadamente 40 mil anos, quando começaram a enterrar
os mortos em túmulos ornamentados. Mas, o amor que faz parte da vida de cada um
de nós é uma construção social; em cada período da História se apresenta de uma
forma.
Na Pré-História
(3.000 a.C) por exemplo, ignorava-se a participação do homem na procriação
e supunha-se que a vida pré-natal das crianças começava nas águas, nas pedras,
nas árvores ou nas grutas, no coração da terra-mãe, antes de ser introduzida
por um sopro no ventre da mãe humana. Aqui a relação amorosa entre homens e
mulheres não era fundamental para a
procriação.
Na Grécia
Clássica,(4.500 a.C a 146 d.C) o sentimento amoroso mais valorizado era
entre os homens. Um tentava mostrar ao outro o quanto era forte e vigoroso.
Tanto o amante quanto o amado preferiam a morte a demonstrar fraqueza diante do
outro. As mulheres eram altamente desvalorizadas. Desde o nascimento
até o casamento permaneciam em casa e não aprendiam nada, além das tarefas
domésticas. Para os gregos, eram os
homens o objeto de amor ideal e só eles podiam ter relações extraconjugais com
concubinas, cortesãs e efebos (jovens rapazes).
Em Roma,
(146 a.C. ao século III) o amor era
encarado como diversão e a atividade era altamente intensa e sem moral. O amor não
era visto de forma positiva por dois motivos: Primeiro porque o ato envolvia
uma mulher, considerada um ser inferior, e isto fazia com que o homem se
rebaixasse também. Segundo porque, de certo modo, fazia com que ele perdesse o controle, numa cultura
obsecada pela dominação masculina. Era comum, na primeira noite dos casais a
abstenção de desvirginar a noiva: em compensação, o noivo penetrava o seu ânus,
para evidenciar a sua soberania. Os
romanos desenvolveram a ideia de prudência, de lutar contra o amor, visando
evitar o sofrimento.
A chamada Antiguidade Tardia (séc. III ao V) trouxe, junto com o
cristianismo, a ligação entre a carne e o pecado. Uma fixação fanática a
respeito da glória da virgindade, da maldade da mulher e da imundície do ato
sexual foi sendo desenvolvida. Atribuiu-se grande mérito espiritual à renúncia
aos prazeres da carne e se deu ênfase ao repúdio das amenidades amorosas.
O sexo era tão abominado pela Igreja que o casamento continente (totalmente sem
sexo) tornou-se o ideal cristão. As pessoas fugiam para o deserto em busca da
pureza e acreditavam que martirizando seus corpos contras os desejos sexuais,
se livrariam da danação eterna.
No início da Idade Média (Séc. V ao XV) se acreditou que o amor jamais poderia
ser recíproco entre um homem e uma mulher. O amor deveria ser unicamente dirigido a
DEUS. Se não fosse por Deus, o amor não tinha um sentido positivo. Nas
relações humanas o amor era sempre visto como paixão sexual irracional, selvagem,
destrutiva. O sexo era abominável e qualquer coisa que tornasse o corpo mais
atraente era vista como incentivo ao pecado. Evitavam-se o banho e a sujeira
tornou-se uma virtude. Os piolhos eram
chamados de “pérolas de Deus”, e estar sempre cobertos por eles era marca
indispensável de santidade. Aqui ficou clara a dissociação entre amor e sexo. E
foi no começo do século XII que houve uma modificação fundamental na percepção
da imagem feminina. O culto à Virgem Maria que promoveu esta mudança. A mulher
deixou de ser associada à Satã e passou a adquirir características da mãe
sofredora, sacrificada e escrava do filho. Esta grande transformação do amor
unilateral – Amor A Deus – para o amor recíproco, deu origem ao amor
Cortez, que significava
idolatria da mulher amada, onde não havia nenhum tipo de contato sexual. Aqui a
mulher deixou de ser submissa e adquiriu igualdade de condição no amor. Além
disso, passou a ser enobrecida por ele. Este tipo de amor deu origem ao amor
Romântico, que sempre à margem do casamento, passou a ser uma
possibilidade na união entre um homem e uma mulher. No final da Idade Média e
até o início da Renascença milhares de mulheres foram torturadas e queimadas
vivas nas fogueiras. Eram acusadas de feitiçaria, de provocar impotência,
esterilidades e abortos. As atraentes
eram suspeitas de ter relações sexuais com Satã. Sob tortura, muitas mulheres
confessavam ter relação com o Diabo e afirmavam voar à noite montadas em
vassouras. Elas eram consideradas a origem de todos os males, portanto tinham
que ser punidas e mortas. A repressão sexual se acentuou e uma moral terrível
pesou sobre a sexualidade.
Na Renascença, séc.XVI e XVII,
a mulher também era enclausurada e o
casamento se configurava como uma mera transação financeira. Enquanto maridos e
filhos podiam ter acesso ao mundo exterior e praticar duplo padrão erótico, as
esposas e filhas permaneciam condenadas à clausura, tanto sexual quanto local. Não
era por amor que se casava. A mulher devia se comportar com virtude, modéstia e
humildade, aceitando a tutela do esposo como natural e normal. O ideal de
esposa eram as castas, fechadas às solicitações de outros homens, mas fecundas,
mãe nutridora e generosa, capaz de sacrifícios pelo “seu” homem” e “sua família”.
Junto ao Iluminismo, Século das Luzes ou Idade da Razão, segunda metade do
século XVII e séc. XVIII, veio o desprestígio do amor pelas “classes
superiores” e intelectuais. O estilo romântico, sofredor e idealizado se
configurava como uma loucura supersticiosa da infância da humanidade. As
emoções deviam ser ocultadas. O marido continuava a ser reconhecido como o senhor
incontestável do lar. Assim como um rei, a hegemonia do marido sobre a
família era vista como uma decisão natural. As mulheres deviam aceitar os erros
dos maridos e deviam assumir a culpa para se tornarem amadas e indispensáveis.
No Século
XIX, período romântico, as mulheres se amarravam em espartilhos e aprendiam
em manuais a forma adequada de desmaiar. Era importante aqui ressaltar a
fragilidade feminina e o que estava em voga era o exagero da emoção.
Valorizavam-se a palidez e a decadência física como prova de sensibilidade da
alma. Ao se casar, o homem conferia a mulher uma espécie de favor, pois só
assim ela poderia adquirir status social e econômico. A mulher que não se
casava era vista como fracassada. A lei permitia que o marido “corrigisse
moderadamente” sua esposa, batendo nela com uma vareta, contanto que
não fosse maior do que a largura do seu dedo polegar.
No Século
XX foram o telefone e o automóvel que marcaram a transformação das relações
amorosas. Em lugar do encontro na igreja, da conversa preliminar com o pai e
das tardes muito bem vigiadas na sala de visitas da família, os jovens passaram
a marcar encontros por telefone e sair a passeio a sós, de carro. A partir de
1940, o casamento por amor se generalizou. As crenças mais comuns
eram: “Existe um par perfeito à minha espera”; a ideia de amor à primeira
vista; a ideia de que o amor é cego e que a “força poderosa do amor” poderia
ultrapassar qualquer obstáculo. Mas, para ganhar o amor de um homem, a mulher
deveria permanecer afetuosa, emocional e subserviente.
Na década
de 50, ainda se reprimia a sexualidade e a conduta da mulher ainda era
controlada. “O que os outros vão dizer?” perguntavam-se as mães aflitas diante
de pequenas ousadias das filhas. O que o outro pensava e as normas sociais
tinham peso excessivo e a reputação apoiava-se na capacidade de resistir aos
avanços sexuais dos rapazes. Para a mulher, casar era o seu principal objetivo
e para que isto acontecesse era necessário “impor respeito”. Quando permitia
certas liberdades com a insistência masculina, a mulher era considerada “fácil”
e ficava mal falada, diminuindo assim suas chances de encontrar um “par perfeito”.
As pessoas acreditavam na possibilidade reducionista de dois fazer um e as
revistas da época orientavam a mulher a catar as cinzas de cigarro que seu
marido jogava no chão sem esboçar nenhum descontentamento.
Cansados desta hipócrita monotonia, surgem
os jovens intelectuais americanos. Imersos em jazz, drogas, sexo livre e pé na
estrada, fazem uma revolução cultural através da literatura. O rock and roll
libera a juventude do conformismo e um ritmo erótico faz com que homens e
mulheres movimentem seus quadris.
Mas, o que marca mesmo uma mudança radical
no comportamento feminino é o surgimento da pílula anticoncepcional na década
de 60. Esta ruptura entre procriação e prazer fez com que o movimento
feminista ganhasse força. Para os jovens dos anos 60, o que importava era sexo,
drogas and rock and roll e “faça amor, não faça guerra”. Por 20 anos, de 60 a
80, houve mais celebração ao sexo do que em qualquer período da História. Descobriu-se
a pílula anticoncepcional e ainda não havia AIDS.
Agora, no terceiro milênio, os jovens
discutem a sexualidade nos meios de comunicação e a sociedade aceita alguns
comportamentos que antes eram considerados ultrajantes: mães solteiras, pais
criando filhos sozinhos, jovens vivendo juntos sem casar, namorados dormindo
nos quartos das namoradas (na casa dos pais dela).
E mesmo assim, depois de toda esta revolução
ainda se quer um amor ideal. É comum vermos por aí mulheres tristes e
desamparadas porque não encontraram um par. É corriqueiro vermos mulheres que
se sentem incompetentes apenas porque supõem que, se não há um homem para
amá-la ela não será realmente feliz. Mulheres independentes ainda saem às ruas
na busca de um príncipe encantado que as proteja e que realize seus sonhos de
Cinderela. Reiteram um inconsciente feminino coletivo e acreditam que só podem
ser felizes realmente se houver um companheiro ao seu lado e que seja de fato
exclusivamente seu! Mas será que é isto mesmo? Será que a nossa felicidade pode
ser atribuída à presença de um outro?
Fantasiamos e tentamos empurrar o outro para
uma imagem criada por nós mesmas. E quando o outro não corresponde às nossas
expectativas, ficamos aborrecidas, entristecidas e frustradas. Não é raro
encontrar ainda hoje, em pleno 2013, relacionamentos mantidos à duras penas
simplesmente porque não admitimos que o outro
é uma pessoa que existe não apenas para corresponder aos nossos desejos e
caprichos. Assim, exigimos exclusividade
e atenção absoluta. A partir daí, o
controle, a possessividade e o ciúme passam a fazer parte do amor e o medo de
ser rejeitado aflora fazendo da vida do parceiro um inferno. A pessoa “amada”
passa a ser “torturada” com situações constrangedoras e desagradáveis. O
ciumento acha que a questão do ciúme se dá por excesso de amor! Isto não é um
fato! O ciúme esta ligado à imagem que cada um faz de si. Quem está de bem com
autoestima se considera interessante o suficiente para não ser trocado com
facilidade. E, se for trocado, lidará bem com isto. Apesar de sentir saudade e
ficar triste, vai continuar vivendo sem desmoronar.
Mas, a pergunta que não quer
calar é: O que quer uma mulher numa relação amorosa? Quais são as expectativas que criamos em
relação ao outro? Que tipo de amor escolhemos para nós? Será que você
sabe? Em consultório percebemos o quanto uma relação amorosa ocupa o tempo de
existência de uma pessoa. O amor ao outro parece ser o grande mote na
existência de uma mulher, principalmente. O medo da solidão é imenso e a dor da
separação é comparada muitas vezes ao sofrimento provocado pela morte de um
ente querido. As mulheres chegam dilaceradas quando são abandonadas e sofrem não
por amarem muito, mas por não conseguirem lidar com o fato do outro
não a querer mais. Esquecem que o amor que está em jogo é o amor próprio e deixam
que o outro leve consigo parte dela, deixando para trás um buraco
arrebatador.
Por isto, queridas, cuidemos do amor
mais importante de nossas vidas. O amor próprio! O amor pelo que somos e pelo que podemos vir a ser. Passamos
tanto tempo esperando que o outro nos reconheça, que esquecemos de procurar
saber quem nós somos. Nos conhecemos muito pouco e raramente sabemos dizer o
queremos de fato, de verdade. É tempo de nos dedicarmos a nós mesmas e amar
muito, amar sim, mas amar direito, sem amarras,
sem limites, sem medos!
Adriana Santiago (08 de Março de 2013)
CRP 05-20345
8662 2565 –
2609 4075
Opa. Posso colocar esse blog como favoritos no meu blog? Boa sorte.
ResponderExcluirClaro que sim, querido! Muito obrigada!
ResponderExcluirRecentemente, na China, os fabricantes de refrigerante estão apertando demasiadamente as tampinhas para que as mulheres não tenham força para abri-las e peçam a ajuda do primeiro homem que estiver por perto, supostamente para incentivar a paquera. Tá certo, mas e se na hora "H" o homem não conseguir abrir a tampinha?
ResponderExcluirComo já dizia Tom Jobim, "fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho"!
ahahaha....adorei o nome do teu blog! Se não conseguir abrir a tampinha ferrou! Macho que é macho, abre tampinhas!
ResponderExcluirTá certo, mas com Cabra Macho não acontece essas coisas! Interessante o apanhado histórico a história das mulheres... E ainda são exploradas pelo capitalismo neoliberal!
ResponderExcluirObrigada Cabra Macho! Seja sempre presente!
ResponderExcluirOlá Adriana,
ResponderExcluirBom saber de você. Leitura interessante, em outros tempos teríamos muita coisa para "discutir", pois sempre haverá controvérsias....se puder leia e divulgue http://osolhosdevera.wix.com/index é uma "Homenagem ao Guiba" e a leitura de divulgação fará com que ele continue escrevendo tão bem como sempre...Bjs...Felicidades.